quinta-feira, 17 de abril de 2025

O que pensam os estudantes?

            Há uma tendência para esquecer certas coisas na voragem dos dias, mas tal não deve suceder.  Nas recentes eleições (19-3-2025) para o importante órgão da Universidade do Minho que é o Conselho Geral, uma assembleia que delibera sobre os mais importantes assuntos da Universidade e fiscaliza a actividade do Reitor,  votaram menos de  dois mil (1985) dos mais de vinte mil (20476)  estudantes inscritos nos cadernos eleitorais, ou seja, menos de 10% (9,7%). Dito doutro modo: abstiveram-se mais de 90% (18.470) dos estudantes inscritos.

Isto não nos deve interpelar e interpelar também  a Universidade, nomeadamente o próprio Conselho Geral e a Reitoria? Qual o significado desta enorme abstenção? A tendência nestes casos  é para cada um de nós fazer a sua avaliação.

Para uns, os estudantes, na sua enorme  maioria,  apenas se interessam, quando interessam,  pelas aulas e pelas notas. O resto, nomeadamente o governo da Universidade, as eleições para os órgãos desta e das suas escolas,  pouco lhes importa.

Para outros, os estudantes não votam, porque não estão ao par do significado desta votação, não estão  devidamente informados.

Ainda para outros, os estudantes votariam muito mais se votassem, por exemplo,  para a eleição directa do Reitor, como está previsto passar a suceder na revisão em curso da Lei do Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior (RJIES).

No entanto, a avaliação que cada um de nós faz, tem pouco valor. Seria muito melhor perguntar aos estudantes o que pensam efectivamente sobre esta matéria e isso é possível saber com elevada segurança, usando meios científicos e técnicos que estão ao dispor da Universidade, através de algumas das suas unidades orgânicas  e que não são dispendiosos. 

Esse conhecimento do comportamento dos estudantes  deveria ser feito e teria muita utilidade. Os estudantes são na sua grande maioria cidadãos já com plenos poderes de cidadania e mal  de uma Universidade que apenas se preocupa em transmitir conhecimentos para que eles  possam mais tarde serem engenheiros, médicos, economistas, juristas, professores de todos os níveis de ensino e profissionais de muitos outros domínios do saber e  não se preocupa com formar cidadãos que o sejam não apenas pela idade mas pela  consciência dos seus direitos e deveres na sociedade de que fazem parte.

O primeiro passo da Universidade para atingir  esse objectivo é dar-se a conhecer aos estudantes nos seus mais variados aspectos e conhecê-los.

Dar-se a conhecer na sua missão e na sua organização e funcionamento não é tarefa muito difícil embora exija uma actuação bem concertada e proporciona, desde logo, um primeiro conhecimento dos estudantes pela  reacção que tiverem a esta transmissão de conhecimento que pode ser positiva ou de muita indiferença.

 Porém, conhecer efectivamente os estudantes, do ponto de vista da cidadania, é bem possível, aproveitando os momentos em que são chamados a eleições ora para a sua Associação Académica (AAUM) ora para o Conselho Geral como sucedeu este ano (sucede de dois em dois).

Um estudo bem feito dirigido a saber as razões da enorme abstenção que ocorre quando chamados a eleições,  possibilitaria orientar a actividade da Universidade no sentido de não se limitar a contribuir para a formação de meros profissionais de nível elevado, mas de contribuir para formar cidadãos conscientes do que significa a cidadania tão necessária nos nossos dias.

Será que a Universidade, ela mesmo, também pouco se preocupa com esta matéria?

PS – De um excelente suplemento comemorativo os 106 anos do DM (15-4-2025), permito-me destacar, na impossibilidade de fazer uma referência mais ampla, este facto que pouca gente conhecerá, mas da maior importância “ A Gráfica do DM imprime atualmente cerca de uma centena de títulos”.

(DM-17-4-25)