sexta-feira, 3 de março de 2023

Os 50 Anos da Universidade do Minho: Breves Notas

A cerimónia do 49.º aniversário da Universidade do Minho ocorrida no Salão Medieval da Reitoria, no dia 18 de Fevereiro de 2023, com a costumada participação de largas centenas de pessoas, merece uma atenção especial, não podendo ficar esquecida passadas uma ou duas semanas.

Qualquer das intervenções proferidas, nomeadamente as do Reitor e do Presidente da Assembleia da República, mereciam um comentário, mas por razões de espaço e porque essas intervenções foram certamente as mais divulgadas pelos meios de comunicação social, reservamos a atenção para as intervenções da Presidente do Conselho Geral (CG), Dr.ª Joana Marques Vidal e da Presidente da Associação Académica da Universidade do Mino (AAUM), a estudante Margarida Isaías.

Sobre a intervenção de Joana Marques Vidal, anotamos especialmente a ideia de abertura da universidade ao meio exterior, fazendo apelo à “comunidade cidadã” para participar na avaliação do RJIES (Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior) e na revisão do mesmo.

Assim deve ser. A ideia de uma universidade corporativa e desse modo fechada, que não tem de responder perante a comunidade envolvente deve ser repelida. A UM deve ter portas abertas a quem pretenda informação (informação de interesse geral), recebendo as opiniões que forem emitidas e acolhendo as críticas que, porventura, lhe sejam feitas, para as apreciar. No entanto, a nosso ver, a universidade corporativa é ainda a ideia dominante na Universidade do Minho como nas outras universidades. Muito caminho há a percorrer. Muito do que se passa nos muros da Universidade deveria ser do conhecimento fora dela e muitas vezes, nem dentro da própria comunidade académica, é bem conhecido. Ao contrário do que se possa pensar, a Universidade não é propriedade dos que nela estão como docentes, investigadores, estudantes ou funcionários. Ela está ao serviço da região e do país, devendo cumprir as missões que lhe estão atribuídas pela Constituição e pela Lei.

Oportunas também as palavras da Presidente do CG sobre o financiamento da Universidade do Minho por não aplicação da lei que regula o financiamento das instituições de ensino superior, seguindo as palavras do Reitor. Como se pode conceber que a lei não seja aplicada, nos termos que ela estabelece, e, pior ainda, que a Universidade do Minho, juntamente com algumas outras, tenha sido (continua a ser?) discriminada negativamente em relação às restantes?

A intervenção da Presidente da AAUM, Margarida Isaías, especialmente aplaudida, mereceu esses aplausos, pois saiu do formato que, em regra, estamos habituados a ouvir, sendo suficientemente irreverente, como deve, criticando nomeadamente o modelo de ensino e os métodos de avaliação praticados na UM que considerou desactualizados. Chamou a atenção, por outro lado, para o papel dos estudantes na academia, desde logo, a participação nos órgãos da Universidade e das Escolas de que fazem parte. Mas é aqui que a Presidente Margarida deve ser chamada à sua grande responsabilidade. Pouca gente saberá, fora da academia, que quem decide, por exemplo, a eleição do Reitor são, muitas vezes, os estudantes. Com os votos dos seus representantes no Conselho Geral decidem para que lado a balança deve inclinar-se.

Ora, sendo assim importa que a representação dos estudantes no CG seja o resultado de uma participação forte no acto eleitoral da escolha deste órgão e, principalmente, que os estudantes saibam o que está em causa nessas eleições.

A ideia que tenho, fundada em muitos anos de experiência, é que a grande maioria dos estudantes não sabem sequer quais são os órgãos da Universidade, muitos deles nem o nome do Reitor e o mesmo desconhecimento ocorre com a unidade orgânica de que estão mais próximos. Era de todo o interesse realizar um inquérito para apurar o conhecimento dos estudantes neste domínio. Seria assim tão difícil fazê-lo? É um assunto, entre outros, que merece ser abordado com mais detalhe.

PS – A UM tem no atendimento telefónico uma pessoa e não uma “máquina” daquelas, demasiado espalhadas, que anuncia algo como: se pretende isto, prima 1; se pretende aquilo prima 2, etc. (algumas vão até 9!). Ainda bem. Até porque a pessoa em causa é amável e encaminha rapidamente.

(Artigo de opinião publicado no Diário do Minho, de 03-03-2023)