quarta-feira, 11 de outubro de 2023

As greves na função pública

Os profissionais que trabalham na educação, na saúde e na justiça têm a obrigação de ponderar muito bem antes de fazer greve. As greves nestes serviços públicos essenciais prejudicam em primeira linha não o Governo em funções, mas os que precisam dos serviços de educação, saúde e justiça, numa palavra, os cidadãos.
 
Os servidores públicos não podem esquecer que o Governo não é o seu patrão, não é dele o dinheiro com que são pagos. Os cidadãos que pagam impostos são o verdadeiro patrão dos funcionários públicos. E todos pagam, até os pobres. Mesmo quando o dinheiro vem da União Europeia ele é entregue ao Estado, constituído pelos seus cidadãos e não ao Governo ou outras entidades públicas que têm apenas a obrigação de o gerir bem.
 
Assim, é nos cidadãos que devem pensar, em primeiro lugar, antes de fazer greve os que trabalham na Administração Pública e na Justiça. Não está em causa o direito à greve dos cidadãos que trabalham nestes sectores, mas a facilidade com que as fazem, argumentando que deste modo vão melhorar os serviços públicos, quando o que sucede é que os cidadãos que têm dinheiro fogem  para o sector privado. E fogem, sempre que podem, porque lá as greves são raras. Ao contrário do que sucede na Administração Pública, fazer greves no sector privado é difícil e perigoso.
 
Melhorar os serviços públicos, remunerando devidamente quem neles trabalha é um imperativo que nós cidadãos devemos ter sempre presente. Mas acertar o justo pagamento é trabalho aturado que deve ser feito, sempre que possível, utilizando meios alternativos de solução dos conflitos e quando a greve for considerada a única saída, então cabe a quem dela se socorrer, convencer bem os cidadãos, demonstrando a sua razão e só depois  a concretizando.
 
Por sua vez, o Governo tem o dever de prestar contas publicamente, fundamentando a razão por que acedem ou não às exigências dos trabalhadores. As greves na função pública não são um mero assunto a dois e os meios de comunicação social, como voz dos cidadãos, devem ter o cuidado de informar detalhadamente sobre os argumentos de uns e de outros, não podendo imperar o segredo. Não perceber a especificidade das greves no sector público é não saber que em democracia os cidadãos são muito mais importantes que o Governo.
 
(Artigo de opinião publicado no JN, de 11-10-2023)