sexta-feira, 17 de maio de 2019

Liberdade de Expressão na Universidade

Dando continuidade ao artigo escrito na semana passada sobre “Informação e Opinião na Universidade do Minho”, no qual se fazia a transcrição de dois textos de alunos sobre a praxe, um contra e outro a favor, atente-se, agora, neste de uma aluna que se insurgiu contra o facto de um dos participantes no diálogo encarar a praxe como liberdade de expressão.

“Liberdade de expressão? Bem, claramente não foi para este tipo de aplicação que os nossos ascendentes lutaram por ela, mas, adiante, não faz sentido tentar explicar... Pensem, sim, na liberdade, ou melhor, no direito que as pessoas que moram perto do Campus [de Gualtar] têm de poder descansar, ter um pouco de silêncio, de sossego, tenham consideração, ontem passava das 1:30h da manhã! Já não basta durante o dia todo em que uma pessoa mal pode ter a janela aberta? Além do mais, a maioria das pessoas trabalha, como, aliás, os vossos pais para poderem pagar os vossos estudos, e para quê? Para formar pessoas sem um mínimo de empatia pelo próximo? E crianças, pessoas idosas, doentes que morem naquelas casas? Alguma vez pensaram nelas? Sim, existem e vocês incomodam e muito! Formação é também civismo, pensem nisso! E, já agora, fala alguém que sabe muito bem o que é praxe e o seu sentido e que obviamente não é este…” Entretanto, surgiu, nesta série de e-mails, um outro, muito típico nestas ocasiões, que dizia o seguinte: “Agradeço e peço para que deixem suas discussões fora das caixas de correio de todos os estudantes da universidade. Saiam para beber ou marquem um encontro para resolverem suas convicções pessoais. Já se tornou comum discussões envolvendo diretamente e obrigatoriamente pessoas que não querem escutá-las. Caso continuem debatendo sobre a praxe ser ou não ser válida ou boa, procurarei o serviço da Universidade para que tome as devidas providências em relações a estas discussões estúpidas.
Saudações Académicas,”.

A reitoria tem resistido – e bem – a restringir esta liberdade de expressão na comunidade académica que vai, aliás, mais além dos assuntos de praxe, mas que tem muito poucos meios de se manifestar. Faz muita falta um jornal, impresso ou eletrónico, desde que imparcial, plural e de publicação regular. Publicações oficiosas já existem.

É de outras que precisamos.

Uma solução poderia ser a publicação regular de um suplemento num dos diários da cidade. Seria assim tão difícil e dispendioso ter, num deles, um suplemento semanal de duas ou quatro páginas dedicado à informação e opinião no ensino superior no Minho e não só na UM? Teria seguramente muitos leitores, desde que bem feito.

Devemos ter bem presente que o que se passa nas academias não só a estas interessa. É muitas vezes do interesse público. E academias onde não circula a liberdade de opinião (tantas vezes por medo!) dão muita má imagem e não se enriquecem.

PS – Segunda-Feira (13 de maio de 2019) – “Agentes da GNR aprendem mandarim na Universidade do Minho”. É uma informação noticiosa da manhã da TSF desenvolvida por entrevista a professora do Instituto Confúcio. Revela-se aqui uma capacidade de iniciativa dentro da UM, num domínio difícil, que se regista com muito agrado.


(Artigo de opinião publicado no Diário do Minho de 17-5-2019)