quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Aos (novos) estudantes da Universidade do Minho

Neste espaço costumo abordar temas sobre autarquias locais e ensino superior (universidades, especialmente), mas não é possível escrever nestes dias sem ter o pensamento no drama dos refugiados que estão a chegar à Europa. Felizmente, o DM publicou um excelente texto sobre a matéria de João António Pinheiro Teixeira na passada 3.ª feira e outros colaboradores não largam nem largarão seguramente este tema, dispensando-me de dizer o que já foi bem dito. Aquele miúdo Aylan Kurdi não me sai da memória e com ele tantas outras crianças e familiares. Tanta tragédia e tão pouca ação. Procurarei estar atento para dar a ajuda que for preciso, sabendo que ela é necessária.
Dirijo-me aos novos estudantes, que estão a chegar à Universidade (mais de 2.500), num clima de paz e de acolhimento, passando a fazer parte de uma academia de mais de cerca de 20.000 pessoas, não podendo deixar de os interpelar.
Estejam à altura do que a geração dos vossos pais e avós conseguiu para o nosso país nas últimas décadas: pôr ao vosso alcance o ensino superior, ainda que de acordo naturalmente com a capacidade e o trabalho de cada um.
Lembro-vos que, ao entrar na Universidade, nos anos sessenta, existiam universidades apenas em Coimbra, Lisboa e Porto e a entrada na Universidade era um privilégio para muito poucos (e um esforço enorme para muitos pais e familiares). Vila Nova de Famalicão, por exemplo, não tinha uma escola pública (liceu) e a escola privada (paga), que existia, dava formação que não chegava para entrar no ensino superior, sendo preciso fazer mais dois anos de estudo fora do concelho.
Acesso à Universidade, naquele tempo, significava com grande probabilidade emprego e emprego qualificado e hoje tal não sucede por razões várias a principal das quais tem a ver com o modo como está organizada a sociedade.
É para esse desafio (o da melhor organização da sociedade) que venho chamar-vos hoje. É minha convicção que o nosso grande problema não é a produção (vejam como pululam e estão cheias as prateleiras de hipermercados e superfícies comerciais – Continente, Leclerq, Lidl, Pingo Doce e tantas outras) é a distribuição mais igualitária.
Precisamos de uma sociedade mais justa e equilibrada e não de um crescimento sem regras, onde conta mais a quantidade dos bens do que a sua qualidade. Produz-se e incentiva-se a produzir para bem do PIB tanta coisa desnecessária e mesmo prejudicial. Para quê? Produzir é preciso, mas produzir o que é necessário e não aquilo que acabamos por deitar fora.
É provável que nem todos estejam de acordo com o que acabo de escrever. Mas então segue outra interpelação: debatam e discutam. Formem uma opinião fundamentada. Sejam universitários! Antes de futuros engenheiros, sociólogos, médicos, juristas, arquitetos, jornalistas, músicos, economistas, gestores, geólogos, historiadores, filósofos e outras profissões e ramos do saber lembrem-se de que são cidadãos. E como cidadãos pensem!
A primeira coisa que se vos pede é que sejam cultos e fraternos e, sendo cultos e fraternos, tudo o resto virá por acréscimo.
Terão consciência dos vossos direitos e dos vossos deveres e não deixarão de os exercer de um modo justo. Comecem a trabalhar, desde já, para deixarem às gerações futuras uma sociedade melhor do que aquela que receberam.
E não se deixem enredar em coisas mesquinhas! Abram os olhos!

P.S. – Há tanto para vos dizer que um artigo de jornal não chega. Espero escrever-vos algo mais extenso.
A primeira coisa que se vos pede é que sejam cultos e fraternos e, sendo cultos e fraternos, tudo o resto virá por acréscimo.



António Cândido de Oliveirain Diário do Minho