quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Contra Certos Arquitetos!

O que é publico pertence-nos. Temos não só o direito mas o dever de chamar a atenção para o estado dos bens públicos (pertençam eles ao Estado, aos municípios ou às freguesias). T enho o maior respeito pelos arquitetos em geral. Curiosamente não é o título académico que me faz ter respeito é a obra feita. (E a este propósito é de lembrar que há, por exemplo, engenheiros responsáveis por excelentes obras de arquitectura).
A um arquitecto peço que saiba aliar funcionalidade e estética. Se a obra cumpre bem a função para que foi feita (habitação, escola, hospital, estádio, piscina e tantas coisas mais) tudo bem. O arquiteto que a pensou tem para mim logo apreciação positiva e tanto maior quanto melhor for a funcionalidade conseguida. Problema existe quando os arquitetos resolvem pôr a estética em primeiro plano, prejudicando a funcionalidade. Não os suporto! Podem ter prémios, podem ter reconhecimento internacional. Até os posso felicitar, com um pouco de boa vontade. O que não quero é viver, trabalhar ou frequentar em tais edifícios.
Basta-me trabalhar num, como trabalho atualmente, no Campus de Gualtar da Universidade do Minho que, em vez de telhado, possui um enorme placa de vidro (cerca de 10x3 metros) a cobrir parte do último piso.
No Verão é um forno com o sol a penetrar diretamente. Ninguém pode permanecer ali. No inverno, quando chove, deixa entrar água nas juntas de ligação do vidro com as paredes. A água escorre até ao rés-do-chão, danificando o edifício e fazendo paralisar frequentemente os elevadores.
Como é possível que se construa um edifício assim? E como é possível que assim se mantenha, ano após ano, sem uma solução? Não conheço pormenores do edifício mas a pergunta impõe-se: será que o arquiteto não se preocupa com o estado do edifício? Será (pior ainda) que se opõe a uma solução que remedeie, ao menos, o mal que fez? Ou a responsabilidade é dos engenheiros que não encontram forma de remediar estes problemas? Remediar, sim, porque agora do que se trata é de encontrar rapidamente uma adequada e pronta resolução da situação existente, pois o mal está feito.
Falo deste edifício não só por ser público e por sofrer diretamente as consequências acima referidas, mas também para lembrar que normalmente não damos a atenção devida ao que é público.
Não damos, mas devíamos. O que é publico pertence-nos. Temos não só o direito mas o dever de chamar a atenção para o estado dos bens públicos (pertençam eles ao Estado, aos municípios ou às freguesias), porque são riqueza que nos pertence, tendo o dever de cuidar dela e porque, por outro lado, quando se degradam, acabamos por ser nós que pagamos a sua reparação com os nossos impostos.
Mas como sempre mais vale prevenir do que remediar. Fujamos dos arquitetos que trabalham para as revistas e para os prémios à custa da serventia das obras que projetam. Precisei de tempo para aprender esta lição.
Contra certos arquitetos! António Cândido de Oliveira
Autor: António Cândido de Oliveira

in Diário do Minho