Dando continuidade ao artigo escrito na semana passada sobre “Informação
e Opinião na Universidade do Minho”, no qual se fazia a transcrição de
dois textos de alunos sobre a praxe, um contra e outro a favor,
atente-se, agora, neste de uma aluna que se insurgiu contra o facto de
um dos participantes no diálogo encarar a praxe como liberdade de
expressão.
“Liberdade de expressão? Bem, claramente não foi para este tipo de
aplicação que os nossos ascendentes lutaram por ela, mas, adiante, não
faz sentido tentar explicar... Pensem, sim, na liberdade, ou melhor, no
direito que as pessoas que moram perto do Campus [de Gualtar] têm de
poder descansar, ter um pouco de silêncio, de sossego, tenham
consideração, ontem passava das 1:30h da manhã! Já não basta durante o
dia todo em que uma pessoa mal pode ter a janela aberta? Além do mais, a
maioria das pessoas trabalha, como, aliás, os vossos pais para poderem
pagar os vossos estudos, e para quê? Para formar pessoas sem um mínimo
de empatia pelo próximo? E crianças, pessoas idosas, doentes que morem
naquelas casas? Alguma vez pensaram nelas? Sim, existem e vocês
incomodam e muito! Formação é também civismo, pensem nisso! E, já agora,
fala alguém que sabe muito bem o que é praxe e o seu sentido e que
obviamente não é este…” Entretanto, surgiu, nesta série de e-mails, um
outro, muito típico nestas ocasiões, que dizia o seguinte: “Agradeço e
peço para que deixem suas discussões fora das caixas de correio de todos
os estudantes da universidade. Saiam para beber ou marquem um encontro
para resolverem suas convicções pessoais. Já se tornou comum discussões
envolvendo diretamente e obrigatoriamente pessoas que não querem
escutá-las. Caso continuem debatendo sobre a praxe ser ou não ser válida
ou boa, procurarei o serviço da Universidade para que tome as devidas
providências em relações a estas discussões estúpidas.
Saudações Académicas,”.
A reitoria tem resistido – e bem – a restringir esta liberdade de
expressão na comunidade académica que vai, aliás, mais além dos
assuntos de praxe, mas que tem muito poucos meios de se manifestar. Faz
muita falta um jornal, impresso ou eletrónico, desde que imparcial,
plural e de publicação regular. Publicações oficiosas já existem.
É de outras que precisamos.
Uma solução poderia ser a publicação regular de um suplemento num
dos diários da cidade. Seria assim tão difícil e dispendioso ter, num
deles, um suplemento semanal de duas ou quatro páginas dedicado à
informação e opinião no ensino superior no Minho e não só na UM? Teria
seguramente muitos leitores, desde que bem feito.
Devemos ter bem presente que o que se passa nas academias não só a
estas interessa. É muitas vezes do interesse público. E academias onde
não circula a liberdade de opinião (tantas vezes por medo!) dão muita má
imagem e não se enriquecem.
PS – Segunda-Feira (13 de maio de 2019) – “Agentes da GNR aprendem
mandarim na Universidade do Minho”. É uma informação noticiosa da manhã
da TSF desenvolvida por entrevista a professora do Instituto Confúcio.
Revela-se aqui uma capacidade de iniciativa dentro da UM, num domínio
difícil, que se regista com muito agrado.
(Artigo de opinião publicado no Diário do Minho de 17-5-2019)