I - O Ministério da Educação e a Praxe
O Ministério da Educação e Ciência lançou ontem - e muito
bem - uma campanha nacional contra a violência física e
psicológica na praxe académica que inclui a disponibilização de um endereço
electrónico para denunciar abusos.
Deve dizer-se antes de mais que,
por muita distinção que se queira fazer
entre a praxe boa e a praxe má, a
violência física e psicológica faz parte da praxe que se pratica nas
instituições de ensino superior e na Universidade do Minho em particular (falo
desta por conhecimento pessoal de muitos anos). A praxe ideal feita somente de
brincadeiras de bom ou mau gosto não existe.
Por esse motivo, a única possibilidade que um aluno (ou
aluna) tem de não ser vexado na sua
dignidade é não se submeter à praxe. E enquanto uma aluna (ou aluno) for
incomodada direta ou indiretamente por
não se sujeitar à praxe numa qualquer
instituição de ensino superior, nessa instituição ainda não se protege a
dignidade das pessoas.
Na praxe que vemos por aí não são só os novos alunos que
são humilhados, são todos os que fazem
parte dessa instituição e daí o dever de todos (professores, funcionários e
alunos) de impedir que tal aconteça.
II - A Tragédia de Gualtar
Em 23 de Abril do corrente ano, três alunos da Universidade
do Minho morreram e quatro ficaram feridos na sequência da derrocada de um
muro, junto ao campus de Gualtar.
Saiu há dias um relatório interno da Universidade do Minho
que concluiu, ao que parece, pois não tive ainda a oportunidade de o ler na página da Universidade,
que a responsabilidade pela queda do muro foi dos próprios estudantes.
Seguramente que esta não é uma resposta satisfatória e que
estão a decorrer outras diligências ou o relatório diz algo mais. Na verdade,
que o acidente ocorreu entre estudantes
da universidade do Minho, é certo. Mas houve certamente alguns em
concreto que foram responsáveis pelo acidente. Dizer que foram os “estudantes”
não é nada. Há que averiguar ao pormenor o que se passou, o contexto daquela
tragédia e, entre outras coisas, porque estava ali um muro que, segundo se diz, não só não tinha as mínimas condições de
segurança como já não cumpria qualquer função.
Passar uma esponja sobre o que sucedeu, é muito grave. Não
se trata sequer de punir severamente quem prevaricou. Trata-se de impedir que,
na medida do possível, coisas destas
voltem a acontecer. Para isso, toda a verdade e todas as medidas em
consequência dela são necessárias e devem ser devidamente divulgadas e não
foram ainda, segundo se sabe.
No dia 23 de Janeiro
deste ano de 2014, salvo erro, um professor de Psicologia da Universidade do
Minho, no cumprimento do seu dever de cuidar da dignidade da instituição de que
faz parte, foi humilhado , em pleno dia e em local central e muito
frequentado do Campus de Gualtar da UM
por estudantes (“doutores”). Como se escreveu e largamente divulgou, na altura,
o professor foi “praxado”.
Passaram-se já mais de oito meses. Foi instaurado um inquérito pelas autoridades académicas.
Qual o resultado? Também aqui temos o direito (e o dever) de saber ao pormenor
o que se passou. Quando o saberemos? O tempo já foi mais do que suficiente.
António
Cândido de Oliveira´
(texto publicado no Diário do Minho de 10 de Setembro de 2014)
(texto publicado no Diário do Minho de 10 de Setembro de 2014)